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domingo, 5 de agosto de 2012

Jogos e Brinquedos Tradicionais

Professora Paula Simon Ribeiro
Comissão Gaúcha de Folclore
Porto Alegre/RS



Os jogos e brinquedos tradicionais são aqueles que por suas características de fácil assimilação, desenvolvimento de forma prazerosa, aspectos lúdicos e função em seu contexto, foram aceitos coletivamente e preservados através dos tempos, transmitidos oralmente de uma geração a outra. Foi vendo, ouvindo e participando que crianças de várias gerações aprenderam e ensinaram, usufruíram e nos legaram estas atividades que nós, educadores, pesquisadores e estudiosos em geral, chamamos de jogos tradicionais.
O brinquedo tradicional geralmente é criado ou confeccionado pela criança para a criança, dentro da concepção infantil de objeto de brincar. Também é produto da expressão artesanal do homem do povo que, em sua simplicidade, reproduz as formas que aprenderam com as gerações que o precederam. Este tipo de brinquedo faz parte do acervo de cultura espontâneo do povo.
Brinquedo industrializado é projetado pelo adulto para a criança, conforme a concepção que o adulto possui, não cabendo à criança criar ou acrescentar nada e, em muitos momentos, devido ao alto custo do objeto, nem mesmo brincar com liberdade. Quando o brinquedo é oferecido como prova de status, para satisfazer a vaidade do adulto, as recomendações quanto ao uso são tantas, que restringem a atividade lúdica.
A criança seleciona a apropria-se de elementos da cultura adulta incorporando-os ao seu universo infantil dando-lhes a forma de brincadeiras e, numa encantada forma de faz-de-conta, copia modelos e vivencia, a seu modo, o mundo adulto, desta forma preparando-se para o futuro, experimentando as atividades e realidades de seu meio. Brincar é meio de expressão, é forma de integrar-se ao ambiente que o cerca. Através das atividades lúdicas a criança assimila valores, adquire comportamentos, desenvolve diversas áreas de conhecimentos, exercita-se fisicamente e aprimora habilidades motoras. No convívio com outras crianças aprende a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, a emprestar e tomar como empréstimo o seu brinquedo, a compartilhar momentos bons e ruins, a fazer amigos, a ter tolerância e respeito, enfim, a criança desenvolve a sociabilidade.
A tradicionalidade e universalidade dos brinquedos e brincadeiras são comprovados através da história e da iconografia.
Brueghel, pintor flamengo (1525-1569), considerado o primeiro grande paisagista do Ocidente, preocupou-se em retratar cenas do cotidiano. Examinando atentamente alguns de seus quadros é possível identificar aproximadamente 70 brincadeiras ou brinquedos vigentes à época e que, ainda em nossos dias, fazem parte do acervo lúdico de nossas crianças.
Algumas dessas brincadeiras são perfeitamente identificadas, outras possuem a estrutura inicial conservada com modificações, explicadas pela dinâmica da transmissão oral do fato de cultura espontânea. A oralidade favorece o surgimento de variantes, bem como a adaptação ao contexto em que o fato está ocorrendo, a inclusão ou eliminação de elementos de acordo com o momento em que o fato é vivenciado.

CURIOSIDADES

Entre inúmeras brincadeiras e brinquedos tradicionais podemos citar alguns que se destacam:




PANDORGA
Pandorga, papagaio, pipa, arraia são diversas denominações para o mesmo brinquedo que, há milênios, diverte crianças e adultos do mundo todo.
De origem oriental, foi utilizada de diversas formas até transformar-se em brinquedo. Nas aldeias chinesas é portadora de mensagens aos deuses e, em tempos de guerra, em 196 aC, foi instrumento de comunicação nas mãos do General chinês Han-Sin que, através de uma pipa, enviava notícias para uma aldeia sitiada; foi útil em experiências científicas de Benjamin Franklin; serve de biruta para verificar a direção dos ventos e, durante a Segunda Guerra Mundial, gigantescas pandorgas enviavam espiões aos ares. No litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em zonas pequeiras, é utilizada para levar linhas e espinhéis de pesca para dentro do mar.


SAPATA

Sapata ou amarelinha é jogo universal, com variantes na representação gráfica e nas regras que, como toda brincadeira espontânea, é estabelecida pelos participantes.
Segundo historiadores idôneos, as estradas feitas de pedra por onde passavam as legiões de soldados durante a expansão do Império Romano eram ideais para este tipo de divertimento, que foi assimilado e preservado pelas crianças.




BOLINHAS DE VIDRO
Inhaque, gude, bolitas ou qualquer outro nome que possa ter, é o jogo favorito dos meninos em qualquer tempo ou lugar.

De origem muito remota, veio para o Brasil na bagagem dos colonizadores e, através dos tempos, sofreu modificações e adaptações de acordo com o contexto cultural, conservando sua estrutura básica, de jogo infantil de rua, essencialmente masculino (embora muitas meninas o pratiquem). É também considerado um jogo cíclico, que aparece com mais intensidade após as chuvas, quando os pátios, ruas ou campos estão molhados, impedindo as brincadeiras que requerem mais espaço.


PIÃO


A origem do pião remonta à Antiguidade Clássica (Grécia e Roma) e foi introduzido na América pelos portugueses.

Participam dois ou mais jogadores, que desenham um círculo no chão onde o pião deve ser lançado e ficar rodando sem sair dos limites da linha. Se sair fora, perde. Há outra modalidade em que o jogador deve lançar o pião contra outro que está rodando com o objetivo de afastá-lo, ou, em casos menos comuns, de parti-lo, vencendo o jogo e inutilizando o brinquedo do companheiro.
Em muitos casos porém as crianças brincam apenas de fazer seu brinquedo girar o maior tempo possível.

PERNAS DE PAU



Também chamada de "andas". É muito antiga, aparecendo em destaque na obra de Brueghel.
Constitui-se por dois sarrafos de dois ou três metros de comprimento com um suporte para os pés a uma altura de acordo com o tamanho da criança que vai utilizar. A criança sobe neste apoio, mantendo as traves presas sob os braços de modo que possa movimentar as pernas à vontade.


CINCO MARIAS


Brincadeira muito antiga, de origem remota, conhecida na Antiguidade Clássica conforme pode ser vista em pinturas em ânforas gregas e outras representações iconográficas. Possivelmente divulgado através da Europa pelos legionários romanos.
Joga-se com cinco pedinchas ou saquinhos de pano com enchimento de grãos ou areia. Com uma mão joga-se uma pedrinha para cima enquanto com a outra juntam-se as outras pedinchas, uma a uma, aos pares, trios ou todas de vez. Este jogo desenvolve atenção e habilidades motoras.


BONECA


É um dos mais antigos objetos de brincar que a humanidade conheceu. Confeccionada com os mais diversos materiais, foram objetos de culto religioso, de decoração e de entretimento para as crianças. Culturalmente são destinadas às meninas, como uma preparação para as futuras funções da maternidade.
No Brasil surgiram, aproximadamente, em 1806, com a vinda da família real, ficando entretanto restritas à corte. No início do século XX chegaram aos lares da classe média as bonecas importadas da Europa, mais precisamente de Nuremberg, na Alemanha, onde estavam localizadas as mais importantes fábricas de brinquedos. Depois de 1945 começam a ser fabricadas em série no Brasil e, a partir de 1950, são copiados os modelos americanos de bonecas loiras, altas, de olhos azuis.
Na atualidade existem de todos os tipos imagináveis, com características de moças, crianças, bebês, que falam, choram, andam. Comem e até fazem xixi. A variedade é imensa e todos os gostos podem ser satisfeitos. Bonecos soldados e super-heróis despertam o interesse também de meninos, dismistificando a idéia de boneca ser brinquedo apenas de meninas.
Popularmente a bruxinha de pano ocupa os espaços nos lares mais humildes, como objeto de brinquedo para as meninas menos favorecidas economicamente. Em sua confecção são utilizados retalhos, linha, algodão, lã em pasta para o enchimento e sobras de lã em fios para os cabelos, que podem ser feitos também com pedaços de pelego ou corda.
Graças à obra de Monteiro Lobato, utilizada pela televisão na série "O sítio do pica-pau amarelo", a bruxinha Emília tornou-se conhecida e amada em todo o Brasil.
Muitos outros brinquedos tradicionais estão vigentes no repertório lúdico da criança do século XX, como o bilboquê, jogo de taco, corda de pular, peteca etc. Quando a criança moderna cansa de navegar em seu computador, distrai-se com as mesmas brincadeiras que as crianças das gerações anteriores.




SANTOS, Santa Marli Pires dos (org). Brinquedoteca: O lúdico em diferentes contextos. 4ªed. Petrópolis: Vozes, 1999.

Resumo e montagem com fotos feito por Mara Silva.
Imagens by Google Imagens.

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